Archive for maio 2013

Vai conquistar o mundo, Neymar!

Aviso: esse texto vai ser longo, e tem como objetivo o Neymar. Várias homenagens já foram feitas pro menino. Por isso vou tentar fazer diferente, e mostrar o caminho e os motivos que levaram até essa minha eterna gratidão pelo garoto ousado e alegre. Se você está sem paciência, ou é mais um desses que tem birra do menino, sugiro que não leia. Mas se quer entender o significado desse gênio do futebol, prossiga.

Antes de qualquer coisa: Obrigado por tudo, Neymar!

Quando eu digo tudo, estou generalizando uma gama de sentimentos que achei que não pudesse ter com o meu time. Ou que não tinha direito de ter. Passei anos e anos sofrendo calado quando as discussões eram sobre futebol e títulos. Tinha raiva, amargura e me torturava cada vez que o meu time "morria na praia".

Ninguém respeitava mais o meu time. Uma tragédia! Como é que ninguém respeitava o time que tem um cartel de jogadores gloriosos e títulos incontestáveis? No Brasil é assim. Não importa o seu passado, suas glórias e sua camisa. O que importa é o que acontece agora. Não há valorização do que já fora feito.

Esperei 12 anos da minha vida para ver o meu time conquistar algo de importante. E foi um Campeonato Brasileiro, do qual eu quase nem lembro o final do jogo, pois assim que o lateral-esquerdo encravou a bola no fundo das redes inimigas, o árbitro gaúcho apitou o final da partida e eu desmaiei de tanta incredulidade. Era um sentimento inexplicável!

Mas antes disso eu só tive decepções. Meu amor por esse clube de futebol foi forjado nas lágrimas de uma derrota, numa final de Campeonato Brasileiro, em que o título foi tirado à fórceps por "aquele que não deve ser mencionado". Nesse time tinha um jogador que pintara o cabelo de vermelho. Tinha 5 anos quando vi a minha primeira final de campeonato, e logo na minha primeira vez aconteceu essa catástrofe.

Os anos de trevas se arrastaram pela minha vida. O homem que tinha o cabelo vermelho transferiu-se pra um time grená da Espanha. Quando o meu pai me contou, eu fiquei puto e desolado. Perdera o meu herói para esse maldito time! E agora? Nada. Não acontecera nada. Um hiato monstruoso imperou no time da praiano.

O futebol, como todos sabem, é um fator social extremamente influente no Brasil. Isso infligia muito no meu comportamento, porque o meu time sempre decepcionava. Futebol é tudo na vida de um garoto brasileiro nessa faixa etária. E eu nunca tinha do que me gabar, o que era o oposto dos torcedores do time verde, do time de três cores e daquele time chato pra cacete que gostava de falar besteiras do meu.

No ano de 2002, a minha vida tomou com uma guinada fantástica. De repente todo mundo começou a temer o meu time. Tinham ódio de um menino de canelas finas e de outro menino que já era barbado mesmo tendo apenas 17 anos. O menino barbudo era o meu favorito, e desde então eu sempre quis ter barba. Hoje eu tenho um pouco, mas nada comparado à que ele tinha.

Em 2003, quando eu ainda me acostumava com o sucesso, o time dos meninos foi pra uma final de Libertadores. Libertadores, cara! Eu só sabia o que era isso por causa de outros times que a disputavam. Claro que eu sabia que, na década de 1960, o meu time tinha conquistado a Libertadores duas vezes seguidas. Só que todo mundo da minha idade já tinha visto o seu time jogar essa bendita competição, menos eu. E na primeira vez que tive esse gostinho, o meu time chegou na final contra um time argentino que levava no nome uma região da face humana. Assisti todos os jogos dessa competição, sozinho, todas as noites no sofá de casa. Perdemos os dois jogos da final, e eu tive a pior noite da minha vida.

Em 2004, ganhamos outro Brasileirão, de forma dramática, e por pontos corridos. Só fomos conquistar o título na última rodada. A Libertadores fora um fiasco, perdemos pra um time colombiano com nome engraçado, mas que no fim sagrou-se campeão. Nesse mesmo ano, o garoto barbudo mudou-se para o Porto, de Portugal. Fiquei chateado, mas ainda tinha o menino de canelas finas.

Já em 2005, um ano horrendo. Eu realmente odiei o ano inteiro. E muito. Tomei cuidado para não usar muito a palavra "ódio" e suas conjugações até aqui, pois à partir de agora eu vou despejá-las quase que aleatoriamente. Foi nesse ano que tudo começou a degringolar. Começou com a confusão da transferência do menino de canelas finas. O presidente do meu time brigou com o empresário dele, e ele brigou com o presidente do meu time. Em meio à isso tudo, um time da realeza espanhola ficava botando lenha na fogueira. Parecia que tudo ia desmoronar. Durante esse período, o lateral-esquerdo que marcara o gol do título de 2002 saiu. Logo em seguida o menino de canelas finas também foi embora. O ódio começava a fluir em minhas veias.

O ódio cessou por um pequeno período em 2006, quando o clube conquistou o Paulistão depois de 22 anos na fila. No entanto, o clube voltou a ser uma draga. Em 2007, a mesma história. Conquistou o bi do Paulista e depois fez feio no Brasileirão.

O ano de 2008 foi o ano em que a raiva e o ódio imperaram de vez na minha vida. O meu time quase foi rebaixado, o que seria inédito em sua história! Perdi a conta de quantas vezes eu chutei o meu velho rádio. O time se safou graças à um gol que mais parecia um jogo de pinball.

No entanto, foi no ano seguinte que a minha vida começou a mudar. Foi em 2009, um ano comum na história recente de letargia do meu time, que um certo menino, franzino como um filé de borboleta, pisou no gramado do Pacaembu pela primeira vez. Vagner Mancini, o treinador responsável pela maior maravilha da história do futebol moderno no Brasil, colocou o garoto sobre o qual eu, e vários outros santistas, tínhamos notícias dele desde os seus 13 anos de idade. Todo santista conhecia ele, mesmo quando ele ainda jogava pelo juvenil. Nós víamos vídeos dele, postado em blogs santistas da vasta web, e a ansiedade era grande para vê-lo no time principal.

Logo em sua estréia, o filé marcou um gol de cabeça contra o Mogi Mirim. Aliás, no Sapão encontrava-se o meu herói de 95, o homem de cabelo vermelho. Ele não tinha mais o cabelo tingido, mas ainda era o mesmo homem que eu endeusava. Mal sabia eu que uma troca de bastão estava acontecendo naquela vitória por 2x1 sobre o Mogi, no Pacaembu.

Aliás, o final deste ano de 2009 foi um tanto quanto profético. Apesar de ter terminado na 12ª colocação do Brasileirão daquele ano, o jogo final contra o Coritiba, no qual o meu time venceu por 4x0, valeu pelo filé de borboleta. Ele marcou os dois últimos gols da partida. Lá pra dezembro, encerrou-se o ciclo "teixeirista" - que fez muitas coisas boas, inclusive sobre o garoto em questão. O tio Laor, presidente que quebrou o ciclo, prometera que o clube voltaria as glórias brevemente com o menino que arregaçara no jogo contra o Coxa.

Eu juro que não acreditava que 2010 seria o começo da minha catarse. Minha não, de todos os torcedores do clube. O ano de 2010 começou exatamente como terminou, em 2009, na partida contra o Coritiba. O time venceu o Rio Branco pelo mesmo placar de 4x0, e com os dois últimos gols marcados pelo mesmo menino, que agora usava um penteado moicano.

Em 2010, o meu time voltou a ser o Santos do meu pai. Ele voltou graças à Neymar. Nesse ano, o Peixe conquistou o Paulistão de forma arrasadora. Foi tão devastador e rápido que eu nem acreditava! Era uma comoção, um renascimento absurdo. Goleadas e mais goleadas por mais de quatro gols. Mais de quatro gols, cara! Jamais pensaria que fosse ver um 9x1 na minha vida. Tudo bem que não era só o Neymar, mas ele era o protagonista dessa retomada!

Nesse mesmo ano o Santos ganhou a Copa do Brasil. Se você prestou atenção no que escrevi, o Santos não ganhava mais do que um título por ano. Parecia uma maldição que impedia o Santos de disputar duas competições ao mesmo tempo e ganhar as duas. Foram tantas goleadas que eu mal pude memorizar! Ah, doce ano de 2010!

No primeiro ano de Neymar como titular do Santos, minha vida ganhou as cores que eu não tinha. E tinha ficado mais feliz, pois o Santos me deixava feliz. Ele era temido de novo. O menino de moicano era odiado por todo mundo, e o time continuava ganhando títulos! Meu mundo sempre girou entorno do futebol, e a minha orbita era o Santos. Porém, faltava a minha obsessão. Aquele título que faltou em 2003.

Eu suplicava por uma Libertadores da América. Foram longas noites acordado, pensando em várias formas de fazer o Santos ganhar esse bendito título. Quando eu percebi que as coisas só pioravam, e que esse sonho estava muito longe de se realizar, eu quase deixei de acreditar.

Depois de tanto tempo, de tanto sofrimento, de tanta dor e decepção, o time liderado por Neymar me deu a maior alegria da minha vida. Foi um presente inesquecível. Quem ama um clube de futebol sabe o que é sofrer por ele. Minha vida poderia ter parado ali que não teria mais importância. Eu poderia idolatrar o Neymar apenas por essa Libertadores conquistada, e que eu clamava todas as noites a fio.

Foram seis títulos com o Santos em 5 anos de profissionalismo. Ao todo, Neymar ficou nove anos no Peixe. Várias pessoas já tentaram "vendê-lo" durante esse tempo, mas ele sempre ficou. Ele ganhava muito bem, mas isso era fruto de uma engenharia financeira perfeita. Ele também cedeu muitas vezes, e bem que poderia chiar, mas nunca o fez. Foram várias demonstrações de amor pela camisa branca ao longo desses nove anos. Com ou sem proposta do Chelsea, Barcelona e etc. Com ou sem o título Brasileiro. Com ou sem um time à sua altura na reta final de sua passagem, ele sempre nos honrou. Sempre. Jogava até quando não precisava.

O Santista não ama o Neymar apenas pelas dancinhas, ou pelos 136 gols, ou pelos dribles, ou pelas goleadas, ou pelo Prêmio Puskas. O Santista ama o Neymar porque ele era um de nós. Ele torceu pelo Robinho em 2002 e 2004, assim como nós torcemos. Ele é amado apenas pelo Santista, porque ele nos deu receita, patrocínio e está colaborando para um grande aumento da torcida. Ele devolveu a auto-estima perdida.

Neymar, em meio à tantas críticas, é um garoto que carrega o Santos até no sobrenome. Foi na vitória nos pênaltis, depois do empate de 1x1 contra o Mogi Mirim pela semi-final do Paulistão, quando o menino subiu no alambrado e comemorou a classificação como se fosse um título,  que percebi o tamanho desse amor dele pelo meu time. Quem viveu intensamente esses anos do Neymar no Santos sabe o que esse moleque representou. Ele nos resgatou do ostracismo. Do fundo do pântano.

Em 19 anos, o Santos conquistou 5 títulos. Nos cinco anos de Neymar pelo Peixe, conquistamos 6 títulos. É impossível não ser eternamente grato. A sina de vitórias voltou em mais uma era. A Era Neymar. Foi um combo de alegrias que, nesses 19 anos anteriores, tínhamos esporadicamente.

Quando ele diz que é um "até logo", eu acredito piamente. Eu sei que ele vai voltar. Eu tenho confiança de que ele vai ser o melhor do mundo lá na Europa. Vou torcer tanto pro sucesso dele, quanto torcia por ele aqui. Pela hombridade e pelo amor que ele teve por nós, os Santistas, durante esse tempo de negociação com os culés, só me resta idolatrá-lo eternamente. Se já não bastasse todas as glórias que ele nos dera, ele também nos respeitou como nenhum outro havia respeitado.

Por todos os dias tristes que viraram dias felizes após um jogo seu. Pelo resgate do nosso orgulho. Pelas lágrimas, lá em Brasilia. Por tudo o que você nos deu, só me resta dizer: vai e conquiste o mundo, Neymar! E até logo!

Meu malvado favorito

Nunca um título adaptado de um filme infantil fora tão adequado para uma realidade. O dia 25 de maio de 2013 fora um dia em que se confundira a ficção com a vida real.

De vilão à herói, o holandês Arjen Robben deu ao Bayern de Munique a sua quinta taça da Champions League. Agora, os bávaros estão empatados em número de taças com o Liverpool. Porém, por muito pouco, o destino não quis que Robben reescrevesse a sua história de vilania.

Um exercício de memória: Robben cometera um erro na final da Champions League de 2009/2010, contra a Inter de Milão, quando perdera a bola no meio-campo, e no lance seguinte a equipe italiana encontrou o caminho do segundo gol. Robben tornara a falhar em outra decisão, no mesmo ano, só que em outra magnitude. O atacante da seleção holandesa perdeu inúmeras oportunidades cara-a-cara contra Casillas, na decisão da Copa do Mundo de 2010, contra a Espanha. O final todos sabem: Iniesta marcou o gol salvador da Espanha na prorrogação. Se não bastasse a fama que estava adquirindo, Robben fez questão de instaurá-la em 2012. Na decisão da Champions League de 2011/2012, o holandês repetiu o mesmo repertório de erros contra a Espanha, porém, com um agravante. Robben perdeu um pênalti na prorrogação da final contra o Chelsea, em Munique. O resultado? Chelsea foi campeão nos pênaltis em plena Allianz Arena.

Em uma das melhores finais de todos os tempos, com ritmo alucinante e muita técnica de ambos os lados, o destaque era mais uma vez Arjen Robben. Como dito antes, o holandês, por muito pouco, não repetiu os mesmos erros de outrora, na final de ontem, contra o Borussia Dortmund.

Os erros do holandês nessa final foram bem parecidos com os da final contra a Espanha. A diferença era de que Weidenfeller estava fechando o gol em vez de Casillas. O ritmo se manteve até os 43 minutos do segundo tempo quando tudo mudou.

Esqueçamos as amareladas do holandês e foquemos na habilidade do jogador. Robben é craque. Ele dribla em alta velocidade, muda de rota e arremata a bola com a perna esquerda de uma maneira absurda! Aposto que muitos de vocês se lembram de vários gols do atacante quando ele costurou a defesa pela ponta e cortou pro meio e chutou. A jogada é manjada, mas é muito difícil de parar.

Robben tinha perdido a sua vaga de titular na ponta-direita do Bayern para Toni Kroos após o desastre da última decisão contra o Chelsea. Kroos era titular absoluto do Bayern até o jogo de ida contra a Juventus, pelas quartas-de-finais, em Munique, quando a equipe venceu por 2x0. O alemão sofreu uma lesão no joelho e teve que operar. Robben, o malvado, voltou a ser titular.

Quando o Bayern avançou para as semi-finais e viu que pegaria o Barcelona, Robben já estava garantido como titular para o enfrentamento. Apesar do óbvio declínio catalão, o Bayern atropelou o Barça e ensacou um 7x0 no placar agregado tendo Robben como principal jogador nas duas partidas.

Chegando à final contra o rival Borussia Dortmund, um timaço - e o único time sabia parar a máquina bávara -, Robben voltara a ser protagonista. O primeiro tempo fora todo aurinegro, com participação essencial de Manuel Neuer. Porém, o Bayern contava com a agudez do vilão da última edição para chegar ao ataque. Numa dessas chegadas, Robben perdera um gol idêntico, cara-a-cara com Weidenfeller, como acontecera em 2010, contra o Casillas.

No segundo tempo Robben manteve o ritmo criando sempre uma ameaça constante para defesa do Dortmund. O domínio era vermelho, mas o placar ainda apontava a igualdade de 1x1. A lembrança do gol perdido, e dos inúmeros chutes perigosos, chamava a atenção para a fama do jogador.

No entanto, ao 43 minutos do segundo tempo, em uma bola esticada da defesa, Ribery matou a bola no peito, deixou-a deslizar pelo corpo e tocou de letra para o atacante que entrava em disparada pelo meio. Esse atacante era o Robben.

Nesse vácuo entre o passe fantástico do francês para o holandês, memórias recentes devem ter tomado a atenção de todos que viam o jogo. Robben, a bola e o goleiro, mais uma vez. Tinha como piorar a vida do Robben? O vilão confirmaria a sua sina?

O que aconteceu foi a redenção de um homem tachado de vilão. Robben, com uma classe que lhe convém, anotou o gol que derrubou a Muralha Amarela do Borussia Dortmund. Atônito, o holandês corria para todos os lados durante a comemoração. Assim que Nicola Rizzoli assoprou pela última vez o seu apito, o ex-vilão tornou-se herói.

Muricy Ramalho costuma dizer que a bola pune. O treinador brasileiro tem toda a razão, mas, a bola também faz justiça. Uma justiça tardia com um grande jogador de futebol, que se ajoelhou e ficou olhando para as próprias mãos. Incrédulo.

Uma justiça, também tardia, com um grande clube de futebol.

O Bayern de Munique junta-se ao Real Madrid, ao Milan e ao Liverpool como um dos principais vencedores do principal torneio continental de futebol no mundo. Falta muito para igualar o número de taças do Real Madrid, porém, uma coisa é certa: o Bayern é o melhor time do mundo.

Essa hegemonia, depois de tantos vices recentes, é fruto de um trabalho duro. O time bávaro conseguiu montar uma equipe que alia jogadores alemães, que foram formados na base, com jogadores estrangeiros que chegaram para fomentar o sistema tático. Com o conhecimento abundante de futebol por parte de Jupp Heynckes, que infelizmente vai se aposentar, o Bayern demonstra um futebol absurdamente dominante.

O Bayern erra muito pouco, joga em velocidade, toca a bola, sempre chuta com perigo e roda o time quando nada dá certo. É muita intensidade e muita paciência. O Bayern em campo parece com uma cobra. É um time predador que calcula com perfeição todos os seus movimentos. Isso é resultado de uma equipe treinada à exaustão, com jogadores de técnica elevadíssima.

Por tudo que envolveu a saga bávara na competição, o destino de Robben, a classe como joga, e o torcedor que sofreu ao perder um título em casa, nada mais justo do que uma final digna de ficção. Claro, em especial para Robben, o malvado favorito de todos os bávaros.

A melhor liga nacional do mundo na melhor final de clubes do mundo

Todo mundo já sabe que a final da Champions League desse ano é entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique. Porém, existe um mundo por trás dessa final. Um mundo estritamente germânico e que atende pelo nome de Bundesliga.

No ano em que completa 50 anos, a Bundesliga emplacou um feito notável na história do futebol europeu: colocou dois clubes alemães na final da Champions League pela primeira vez. Em seu cinquentenário, a liga alemã conseguiu se destacar de novo no cenário futebolístico.

No entanto, não é a data comemorativa, ou a final inédita que credencia a Bundesliga como o melhor campeonato nacional do planeta. Uma série de fatores positivos e culturais implicam na afirmação e na consolidação dos alemães.

O fator primordial para o sucesso da Bundesliga foi o reconhecimento do passado e a realização de um ideal. Para que isso acontecesse, foi preciso muita dedicação, precisão, determinação, paciência e disciplina, marcas do futebol alemão em si, segundo Bobby Moore. 

Claro que somente isso não garante sucesso no futebol moderno. Marius Neuhaus, cientista político e especialista sobre a Bundesliga, afirma que a identificação cultural do alemão com a sua região é extremamente forte. Além disso, um fator global também interferiu nesse processo: a Segunda Guerra Mundial. Devido à grande depressão alemã ocasionada pela derrota na Segunda Guerra, o futebol virou uma escapatória da realidade. O alemão é fissurado por futebol, e ele morre pelo time que torce.

Sabendo que o futebol é muito mais do que uma paixão, os alemães revitalizaram a sua liga com base em conceitos administrativos modernos. Dentre todas as principais ligas europeias, a Bundesliga é a única que não possui dívida com o fisco. A Premier League, La Liga e Calcio Serie A, estão cada vez mais afundados na crise europeia.

Além de não possuir dívidas com a Federação Alemã de Futebol, a Bundesliga não permite que os clubes de futebol se endividem. O famoso fair play financeiro que Michel Platini, presidente da UEFA, quer implantar em toda Europa, já existe há mais de uma década na Alemanha. Caso algum clube esteja devendo, a determinada equipe é rebaixada de divisão até que ela se reestruture e consiga o acesso, por meio da competição, e volte para o lugar de origem (ou para a primeira divisão).

Outro fator importantíssimo para o crescimento da receita e da igualdade dos clubes alemães é com relação à cota de televisão. A Bundesliga sentenciou que todos os clubes tem que receber a mesma fatia do dinheiro pela transmissão, e que TODOS clubes tem o direito de ter a sua partida televisionada para todo país ao menos uma vez por rodada. Isso mesmo, na Alemanha não importa se o time tem pouca ou muita torcida, ele vai aparecer ao menos uma vez na televisão (tanto na TV aberta quanto na TV fechada).

É quase inconcebível imaginar que isso aconteça no Brasil, onde existe um monopólio de Corinthians e Flamengo, em todas as rodadas, e em todos os canais.

Graças à igualdade nas cotas e com a grande exposição do clube na televisão, as agremiações alemãs trabalham fortemente com o marketing para conquistar mais torcedores, mais sócios e mais dinheiro. Por ser tão justa com os clubes, a Bundesliga acaba que incitando-os à usar o marketing como um meio legítimo para angariar mais dinheiro, e assim ter vantagem na compra de jogadores. Simples, honesto e preciso. Algo que o Bayern de Munique explora com maestria.

"A maioria dos clubes da Premier League e da La Liga teriam que declarar falência na Alemanha. É uma combinação com o status econômico do país, e a Alemanha está liderando a Europa nesse momento de crise", conta Marius.

Aliás, na Alemanha é raro ver um clube despejar cifras exorbitantes em jogadores. Desde a remodelação, quando os alemães perceberam que eles não eram mais uma potência temerosa no âmbito mundial do esporte bretão,  os germânicos decidiram investir nas categorias de base. Todo o lucro que cada clube consegue com as cotas, com a federação, com o marketing, vão, em sua grande parte, para a infraestrutura da academia de jovens.

Essa preocupação com os jovens jogadores reflete na seleção. Hoje, a Alemanha é a única seleção párea, talvez superior, à Espanha. Com futebol ofensivo, pragmático e compacto, a equipe de Joaquim Low é um resultado caseiro. Por exemplo, no último jogo oficial da Alemanha, contra o Cazaquistão, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, em que ela venceu por 4x1, apenas dois jogadores, de todos os que foram relacionados para a partida, não atuavam por clubes alemães: Sami Khedira e Mesut Ozil, ambos do Real Madrid. Lembrando que 90% dos jogadores da equipe principal da Alemanha já passaram pelas divisões de base da seleção nacional.

Somando todos os fatores já apresentados, existe um que é a marca registrada da Bundesliga: o público. Os torcedores, razão maior do futebol, são tratados de maneira especial na Alemanha. Desde o início deste século, o campeonato alemão é insuperável na média de público. O líder de arrecadação e de público na Europa é o finalista desta edição da Champions League: o Borussia Dortmund.

Os estádios alemães são a combinação perfeita de conforto, segurança e modernidade, sem tirar a vibração e a pressão impulsionada pelos torcedores. Dentro das arenas, é obrigatório ter um local reservado para os mais fanáticos, pois os clubes sabem que os donos são os torcedores e não os dirigentes ou patrocinadores. É comum uma agremiação alemã eleger um torcedor/assessor responsável pela comunicação entre a diretoria e os torcedores da arquibancada. Esse feedback entre torcida e direção possibilita que o clube agrade e melhore as questões exigidas pelos fãs.

Os mosaicos, bandeiras e adereços, tão presentes nas festas protagonizadas pelos torcedores alemães, são resultado de paixão, fanatismo e organização entre clube e torcida. O laço que une o clube, os fãs e os jogadores é muito estreito. Franck Ribery, ponta do Bayern, apesar de francês, sempre comemora os seus gols no meio da "geral" bávara. Sebastian Kehl, um dos jogadores mais experientes do Borussia Dortmund, puxa o coro da Muralha Amarela (a maior geral da Europa, com 25 mil lugares atrás do gol visitante) com um megafone.

Detalhe: desse numeroso e suntuoso aglomerado rebanho de torcedores alemães, 40% são mulheres! Sim, o futebol é tão forte, tão cultuado na Alemanha, que esse número grande de moças no estádio evidencia o quanto é trabalhado a marca, a receita e o público na Bundesliga.

Dito isso, em meio à tantos êxitos alcançados pelos germânicos na reconstrução do seu futebol, a filosofia alemã virou referência no mundo da bola. O resultado será acompanhado neste sábado, quando o Bayern de Munique, símbolo maior desse profissionalismo alemão, enfrentará o conterrâneo de Dortmund, o Borussia, que renasceu das cinzas (e de uma dívida de mais de 200 milhões de euros) graças ao uso correto das receitas.

O Bayern vai para a sua quarta final de Champions League desde a entrada do século XXI, sendo que das últimas três o clube só conquistou uma, na temporada 2000/2001, contra o Valencia. O clube bávaro, referência no futebol europeu por ter a melhor saúde financeira dentre os gigantes europeus, é favorito por ter um plantel com mais opções de qualidade. Os principais destaques do time (Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger e Thomas Muller) são pratas da casa misturados com jogadores de alto nível que foram comprados antes do ápice (Manuel Neuer, Dante, Franck Ribery, Arjen Robben e Mario Mandzukic). Por ter perdido a final da temporada passada para o Chelsea, em casa, o Bayern tem uma segunda chance para amenizar a decepção que ainda mora no coração de cada bávaro vivo.

O Borussia Dortmund, que conquistou a Europa apenas uma vez, em 1996/1997, contra a Juventus, encara agora a sua segunda final na história. Como dito antes, o Borussia conseguiu sobreviver à falência em 2003, quando teve que vender o seu estádio, o Westfalenstadion, para uma empresa privada, e fazer acordos para o pagamento de sua dívida milionária. Além disso, o BVB (como é conhecido o Borussia Dortmund) contou com um empréstimo de 2 milhões de euros do Bayern de Munique. Isso mesmo, dois rivais fervorosos. Irônico? Nem um pouco! O Borussia se reergueu e sanou todas as dívidas que tinha. Depois de conseguir eliminar o maior encosto de sua vida, o time da cidade de Dortmund recomprou o seu estádio e apostou na fórmula caseira de revelar jogadores. Além de revelar, o Borussia utilizou-se do scouting de jogadores desconhecidos e com potencial, caso do Shinji Kagawa (que foi vendido ao Manchester United por 26 milhões de euros, sendo que o japonês fora comprado pelo Borussia por 120 mil dólares do Cerezo Osaka),  Felipe Santana, Robert Lewandowski, Lukasz Piszczek e Jakub "Kuba" Blaszczykowski. Das últimas três edições da Bundesliga, o BVB conquistou duas, e hoje está na final da Champions League. Um renascimento épico.

Portanto, a final desta Champions League entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique vai muito além da "orelhuda" (apelido da taça). No canto vermelho, o Bayern de Munique, um clube gigantesco, potente e inovador. No canto amarelo, o Borussia Dortmund, um gigante alemão que por muito pouco não pereceu, e agora desfruta de seu trabalho duro e do profissionalismo. Juup Heynckes contra Jurgen Klopp, o primeiro se despede do futebol, enquanto o segundo se consolida como um treinador estrategista e motivador. Duas torcidas alucinantes vão duelar num show à parte dentro das arquibancadas. Mario Gotze, vendido pelo Borussia Dortmund ao Bayern de Munique, não joga. Enquanto isso, Franck Ribery briga com Jerome Boateng na comemoração do título da Bundesliga. Em Wembley, os dois clubes de melhor campanha desta edição da Champions League vão disputar o troféu, não só de rei da Europa, mas também o troféu de rei da Bundesliga, atualmente a melhor liga nacional do mundo.

Ó, pá! Quanta confusão na terrinha

A Liga Sagres, nome dado ao campeonato nacional de Portugal, reservou aos torcedores da terrinha um certame muito interessante neste ano. O campeonato português quase nunca reserva uma surpresa com relação ao vencedor: ou é o Benfica, ou é o Porto. Porém, a edição deste ano chamou a atenção por alguns detalhes que devem ser observados com afinco.

O primeiro detalhe que chamou a atenção foi o desfecho do campeonato. A trama não fugiu do roteiro, e apenas o Benfica e o Porto disputaram o campeonato pra valer. O Porto liderou a competição, com o Benfica empatado em pontos, até a rodada 21. Depois disso, o Benfica arrancou fortemente ao título. As Águias chegaram a abrir quatro pontos de vantagem sobre o Porto. Porém, depois de liderar a campanha até a rodada 28, o Benfica perde o clássico para o Porto, no Estádio do Dragão, quando a diferença era apenas de dois pontos. Resultado: Porto voltou à liderança na rodada 29, e com um jogo restante para fechar o campeonato. Os Dragões venceram o seu compromisso contra o Paços de Ferreira e conquistaram o tricampeonato.

O Benfica pagou pela sua incongruência. O clube de Lisboa deixou escapar pelos dedos uma chance única, pois bastava o empate contra o Porto para deixar o título praticamente assegurado. O empate ia sair se não fosse por culpa do Kelvin. O jovem brasileiro, revelado pelo Paraná Clube, entrou nos minutos finais do clássico e acertou um petardo (porém defensável) no último minuto da partida. Uma amarelada incrível do Benfica, e uma recuperação magistral do Porto.

O segundo detalhe que chamou a atenção foi, o já citado, Paços de Ferreira. Fundado em 1950 como Vasco da Gama, o clube, de proporções bastante modestas, sempre frequentou as divisões inferiores de Portugal. Na década seguinte, a equipe mudou o seu nome de Vasco da Gama para Paços de Ferreira, nome da cidade. A cidade de Paços de Ferreira fica no estado do Porto, e tendo o FC Porto como maior clube, o Paços de Ferreira resolveu copiar o uniforme do gigante do estado nessa mesma década.

Com o tempo, o Paços de Ferreira foi adquirindo acessos. O clube conquistou por três vezes a segunda divisão de Portugal, que são os seus únicos troféus oficiais. Na década de 1990, o Paços deixou de copiar o Porto e resolveu mudar o seu uniforme. Usando as cores amarela e verde, o Paços de Ferreira foi se assentando no cenário luso.

No entanto, a maior conquista do clube aconteceu nessa temporada quando o Paços de Ferreira conquistou o terceiro lugar na tabela de classificação, e assegurou uma vaga nos playoffs para Champions League. Um clube sem dinheiro, sem grandes jogadores e com muita força de vontade conquistou o terceiro posto com duas rodadas de antecedência. Aliás, um fato curioso sobre o clube, é que o seu principal destaque é o treinador Paulo Fonseca, de apenas 40 anos, que já está sendo cortejado por grandes clubes europeus.

O Paços de Ferreira conta com dois brasileiros em seu elenco: Cássio, ex-goleiro do Vasco, e Luiz Carlos, ex-meia do Ipatinga. O segundo, aliás, foi o grande jogador da equipe ferreirense no campeonato. Além dos dois brasileiros, outro destaque da equipe é o atacante português Manuel José.

O terceiro e último detalhe desse campeonato português fica pela decepção de um grande clube. O Sporting, equipe muito tradicional, terminou o campeonato apenas na sétima posição. Envolto em disputas políticas, que resultou na renúncia do presidente, o clube da capital portuguesa desempenhou um papel pífio durante o certame.

O que mais se discutiu sobre o Sporting, além da posição na tabela, fora a qualidade do elenco em comparação as equipes que ficaram à frente dos Leões. Rui Patrício, Boulahrouz, Labyad, Jeffrén, Capel e Wolfswinkel são alguns bons jogadores do Sporting, que naufragaram juntos com a agremiação.

Detentor de 18 campeonatos nacionais, o Sporting vai ficar de fora até da Europa League para a temporada de 2013/2014 devido à má campanha. Com salários atrasados e pouco dinheiro em caixa, o clube de Lisboa deve cortar gastos e perder vários jogadores na janela de transferências que vai se abrir agora no verão europeu.

O legado escocês de Sir Alex Ferguson

A primeira notícia que recebi na manhã de quarta-feira, 8 de maio, me deixou completamente perplexo. De cara achei que fosse brincadeira da televisão, mas não era. Sir Alex Ferguson, um grande ídolo, declarou que vai se aposentar ao final desta temporada.

Confesso que já briguei muitas vezes com o Sir Alex. A maioria dessas vezes foram por causa das escolhas do escocês que eu julgava muito estúpidas no momento. Não entendia como Wesley Brown era titular na lateral-direita (jogou até a final da Champions League de 2007/2008 contra o Chelsea), enquanto Gary Neville amargurava o banco depois de tudo que ele já tinha feito pelo clube. Não entendia como John O'Shea, jogador polivalente, porém muito caneludo, jogava frequentemente com ele. Não gostava das constantes alterações de posição dos jogadores. Já o chamei de louco, de esclerosado e de idiota.

Entretanto, ao final da temporada sempre tinha um troféu à espera do genial Alex Ferguson. E eu tinha que engolir tudo aquilo que eu reclamava. As minhas reclamações até que faziam sentido (Brown e O'Shea estão penando para serem titulares no Sunderland, atualmente), mas de algum jeito Fergie sempre conseguia usufruir desses jogadores limitados, algo que talvez nem eles soubessem que podiam fazer.

Esse era Sir Alex Ferguson, um gênio estrategista que conseguia jogar com qualquer peça. Um homem que eu aprendi a respeitar e admirar. Afinal, quem nesse mundo consegue se manter no cargo de treinador numa equipe mundialmente conhecida por longínquos 27 anos? Não existe, e duvido que vá existir.

Para se ter noção da grandeza desse treinador, Ferguson conquistou 48 títulos oficiais em toda a sua carreira! Se Fergie fosse um time da Premier League, ele seria a TERCEIRA "equipe" com mais títulos. O treinador do Manchester United só ficaria atrás dos próprios Red Devils e do Liverpool.

Ampliando esse panorama para toda Europa, clubes como Valencia, Atlético de Madrid,  Athletic Bilbao, Napoli, Roma, Lazio, Borussia Dortmund, Schalke 04 e Hamburgo, por exemplo, levariam uma surra de títulos do velho escocês.

Ferguson também já deu algumas escorregadas durante essa jornada gloriosa. Manucho, Bebé, Dong Fangzhuo, Mikael Silvestre, Bojan Djordjic e Danny Nardielo são algumas delas. Os dois primeiros nomes quase fritaram a reputação do treinador escocês, que foi investigado por supostamente favorecer o empresário desses dois jogadores.

Apesar de algumas escorregadelas, Sir Alex está acima de todos os treinadores de clubes no mundo. Não existe alguém comparável ao mestre escocês. Ele conquistou 13 títulos da liga inglesa, sendo que todos foram pela Premier League, que é a fase moderna do campeonato inglês, e que fora fundada em 1992. Conquistou duas Champions League (impossível não se recordar do 2x1, de virada, contra Bayern de Munique, no Camp Nou, em 1999, nos dois minutos de acréscimo). Tem dois Mundiais de Clube (Palmeiras/99 e LDU/2008). Cinco FA Cups. Quatro Copas da Liga. Duas Supercopa Europeia (uma pelo Aberdeen e uma pelo Manchester United). Dez Supercopa da Inglaterra. Três Scottish Premier League (todas pelo Aberdeen) e quatro Copas da Liga Escocesa (todas pelo Aberdeen). E olha que esses foram apenas os mais notáveis!

Ferguson também conquistou prêmios individuas, como: 11 vezes eleito o melhor treinador da Premier League e três vezes o Manager of the Year (pela LMA).

No entanto, o que mais impressionou em Sir Alex não foram os frutos colhidos por ótimos times, ou pelos times medianos. Muito menos por ter feito jogadores limitados jogarem bem. O maior mérito do lendário manager era sua capacidade de reciclagem.

Aos seus 71 anos, Ferguson se renovara incontáveis vezes. Apesar de ter recriado a famosa "duas linhas de quatro", o Sir sempre, sempre mesmo, tinha carta na manga. Um às do futebol. A maior desses ases, claramente, fora a versatilidade dos jogadores. Praticamente todos os jogadores do Manchester United sempre souberam desempenhar mais de uma função enquanto foram treinados por Ferguson.

Alguém pode-se se lembrar do "Boring Manchester (Manchester Chato)", que fora campeão duas vezes com Sir Alex ganhando na base do 1x0. Ferguson mesclava como poucos o seu time, e priorizava cada jogo. Todas as partidas tinham o seu valor diferente. E por isso, era quase impossível pegá-lo de desprevenido. Às vezes era necessário ser "chato", e ganhar, ou ser impecável, e convencer.

David Moyes, e o legado: um dia após o anúncio da aposentadoria de Alex Ferguson, a diretoria do Manchester United anunciou o  treinador do Everton, David Moyes, como o seu novo manager.

Conterrâneo de Ferguson, David Moyes desempenhou ótimos trabalhos no clube azul de Liverpool durante onze anos. Com elencos modestos, o Everton sempre fora bem armado e posicionado pelo promissor treinador.

A escolha de Moyes pelo Manchester United era uma bola que vinha sendo cantada há algumas temporadas, quando ja se começava a especular a aposentadoria de Alex Ferguson. Com apenas 50 anos de idade, Moyes fora eleito três vezes pela LMA (League Manager Association) Manager of the Year, em 2003, 2005 e 2009.

Porém, agora num patamar muito mais elevado, chegou a hora de David Moyes mostrar ao mundo de que ele não passa de um treinador com potencial. Com dinheiro em caixa, um elenco vitorioso e uma pressão por continuidade, é que se verá todo o potencial do escocês.

No Everton, Moyes ficara famoso por montar equipes agressivas e técnicas. Nesta temporada, até certo ponto, o Everton brigou valentemente por uma vaga na Champions League. Porém, com algumas lesões importantes, o clube terminará a sua participação com a sexta posição, uma colocação acima do seu arquirrival, o Liverpool.

Desde a temporada 2001/2002 no Everton, Moyes ficou apenas três vezes fora do dez melhores colocados da EPL (2001/2002, 2003/2004 e 2005/2006). Na temporada de 2004/2005, David Moyes colocou o Everton em sua melhor posição na tabela durante esses onze anos, que fora a quarta colocação. Os outros trabalhos de Moyes sempre foram bons, como o quinto lugar de 2008/2009 e a sexta posição nas temporadas de 2007/2008, 2006/2007 e 2002/2003.

O cartel de trabalho de Moyes é bastante sugestivo. Basta agora saber se ele será capaz de manter o legado mega vitorioso do seu conterrâneo, e inserir o seu nome como um treinador de classe mundial. A hipótese é de que David Moyes vá conseguir. Especialmente se depender da nacionalidade!

Muito além do tricampeonato

Frank de Boer, Dennis Bergkamp e Marc Overmars. Parece que o assunto é o Ajax da década de 1990, certo? Nem tanto! Os fãs da Laranja Mecânica também guardam esses três nomes no coração e na memória. No entanto, a memória pode ser refrescada vendo esses três craques ajudando o Ajax novamente, porém, fora de campo.

O lendário ex-zagueiro holandês e ícone do Ajax, Frank de Boer, é o atual treinador da equipe que conquistou o tricampeonato da Eredivisie neste domingo (6), e responsável direto pelo modo despojado de jogar e pela nova fase do maior clube holandês. Zagueiro de muita técnica, de Boer assumiu o Ajax na temporada 2010/2011, após início inconstante do seu predecessor, Martin Jol.

Já o magnifico ex-atacante do Ajax, Arsenal e seleção holandesa, Dennis Bergkamp, é o auxiliar-técnico da equipe que o revelou. Bergkamp está no Ajax desde 2011, e assumiu o cargo após um pedido de Frank de Boer. Enquanto jogadores, Bergkamp e de Boer jogaram juntos por cinco anos e conquistaram apenas três títulos juntos: Eredivisie (1989/90), Taça da Holanda (1992/93) e Europa League (1991/92).

Revelado pelo Go Ahead Eagles, e contratado pelo Ajax em 1992, onde fora ídolo até sair para o Arsenal em 1997, Marc Overmars era um insinuante e habilidoso ponta-esquerda dos tempos áureos do clube holandês na década de 1990. Hoje, Overmars é o diretor-esportivo do clube (assumiu o cargo de Louis Van Gaal, ex-técnico do Ajax, Holanda e Bayern de Munique).

Entretanto, a maior contribuição do trio para o clube que lhes projetou para o futebol mundial não foi justamente o peso de seus nomes, e sim o seu conhecimento tático sobre o jogo. De Boer, como citado anteriormente, assumiu o Ajax com uma temporada em andamento. Porém, antes de ser convidado para assumir o cargo de manager, Frank era o treinador do Ajax B. Ou seja, a maioria dos jogadores que hoje são titulares do Ajax já passaram pela mão do ex-zagueiro. Casos como o de Christian Eriksen, Siem de Jong e Daley Blind. Bergkamp fora auxiliar-técnico de Bert van Marwijk na seleção holandesa e treinador do Ajax Sub-19 antes de aceitar o convite de de Boer. Já Marc Overmars entrou pra diretoria nessa temporada com a missão de ampliar ainda mais a filosofia noventista que tanto deu certo.

Sabendo do elenco que tinha em mãos, e sabendo também das condições financeiras do clube, a diretoria do Ajax não exitou em promover um iconoclasta para ser um "Guardiola 2" de um gigante à deriva. De Boer sabia que precisava chacoalhar o gigante holandês. E o fez.

Assim que assumiu a equipe, de Boer disse que resgataria o futebol de outrora com muito afinco. Aos poucos o Ajax foi se despedindo do futebol monocromático que praticava antes de Frank de Boer para o futebol audacioso que vemos em campo hoje. A missão era clara: reimplantar o estilo clássico holandês de jogar futebol, que fora perpetuado pelo próprio Ajax de Johan Cruyff, e utilizando jovens talentos.

O que mais chama atenção nesse Ajax tricampeão (a última vez que isso aconteceu foi na década de 1990, com Frank de Boer como capitão), é o quão rápido as coisas estão andando por lá. De Boer conseguiu transformar um elenco, que tem média de 22 anos de idade, numa máquina onde todos os jogadores do meio para a frente sabem jogar em alto nível. Esse resultado aconteceu em apenas três temporadas.

Os trunfos do Ajax, além do triunvirato, são as duplas de armadores que possui: Christian Eriksen e Siem de Jong. O primeiro é dinamarquês e tem apenas 21 anos. O segundo é holandês e tem 24 anos. Eriksen é o jogador que mais deu assistências na temporada: 16. De Jong é o que mais fez gols pelo Ajax: 12. Existem rumores de que Eriksen pode trocar o Ajax pelo PSG, Barcelona ou Manchester City. Enquanto isso, de Jong é especulado no Manchester United e no Arsenal.

Falando em transferências, eis o motivo da grande decadência do futebol dos Joden (Judeus). Graças à Lei Bosman, que desmantelou o estrangeirismo entre os jogadores da União Europeia, muitos clubes com orçamento maior que do Ajax recorrem ao plantel holandês para se reforçar.

Alguns exemplos dessa debandada de jogadores são: Wesley Sneijder, Rafael van der Vaart, Luis Suarez, Marten Stekelenburg, Klaas-Jan Huntelaar, Thomas Vermaelen, Gregory van der Wiel, Jan Vertonghen e Urby Emanuelson. Infelizmente, devido à forte concorrência com os petrodólares e do dinheiro de estatais soviéticas, o Ajax virou coadjuvante na Europa - e por um período de seis anos, entre 2004 e 2010, também na Holanda-, como não era de costume em 1995, data de seu último brilho continental.

À margem desse problema, o Ajax encontra a sua salvação nas citadas jovens promessas. Muitos desses jogadores chegam de suas filiais na Africa do Sul e no Suriname. Além das filiais, o clube holandês realiza torneios com o nome do patrocinador master para ampliar o seu scouting de jogadores de outros países (especialmente da região escandinava). Papel esse que Marc Overmars realiza com maestria.

Percebendo que não tem como lutar contra o sistema, os Judeus resolveram elaborar uma saída que lhes garantisse uma sobrevivência no futebol. O clube revela muitos jogadores, e depois os vendem por um alto preço para gerar lucro. Esse dinheiro é utilizado para se reforçar pontualmente e também para sanar os déficits da temporada.

Orbitando nesse contexto, Frank de Boer e Dennis Bergkamp vão construindo uma equipe competitiva nacionalmente, e franco atiradora continentalmente. O Ajax, hoje, é um clube que joga pra frente, atacando o máximo que pode e defendendo em bloco.

De Boer montou o seu time no multifacetado 4-2-3-1, que vira 4-4-2 em situações de contenção, e um 4-3-3 quando o gol é obrigação. Com velocidade, o foco da equipe se sobrepõe no dinamarquês Eriksen pela meia-direita (no 4-4-2 ele fecha como terceiro homem de meio campo, num losango. No 4-3-3 ele é o único armador), de Jong fica centralizado, com liberdade para penetrar na defesa adversária, e Viktor Fischer fecha na meia-esquerda. Sigthórsson, único atacante de área, faz a parede, apesar de ser um jogador de porte físico moderado.

O papel de Viktor Fischer, jovem dinamarquês de 18 anos, começou a chamar a atenção nessa temporada devido à sua grande habilidade com a bola nos pés e de sua velocidade de raciocínio. O jeito de jogar de Viktor Fischer lembra muito o jeito de Marc Overmars na década de 1990.

Ofensivamente o Ajax é potente, porém, defensivamente o clube chega a desejar. O título desta temporada só não veio antes devido à despreocupação com a marcação. Chega a ser irônico um time que é comandado por um zagueiro, que fora excelente no passado, tomar tantos gols por erros de marcação. A promissora dupla de zaga do Ajax, Toby Alderweireld e Niklas Moisander, é consistente. O detalhe é que os gols sofridos pelo time são somados pela desatenção dos laterais, que apoiam muito, ao desguarnecimento pela lentidão dos zagueiros quando saem no combate (muitas vezes em desvantagem). Ricardo van Rhijn e Daley Blind (filho do lendário Danny Blind, do próprio Ajax, na década de 1990) são ótimos apoiadores e que possuem um pulmão invejável. No entanto, a falta de marcação dos dois jogadores acaba deixando a dupla de zaga com as calças na mão.

O próximo desafio de Frank de Boer, Dennis Bergkamp e Marc Overmars é desempenhar um papel de destaque na Champions League. Nesta temporada, o clube tem a desculpa de ter caído no grupo da morte, que contava com Borussia Dortmund (finalista), Real Madrid (semi-finalista) e Manchester City. Porém, nas duas últimas edições o clube não conseguiu sair da fase de grupos (coincidentemente sempre ficando com o terceiro posto). Talvez o grande problema dessa equipe na Champions seja a juventude e a falta de tarimba da maioria dos jogadores.

Mas, uma coisa é certa: de passado o Ajax entende. E foi no passado que o clube foi buscar a sua salvação. Porém, ao invés de repetir os erros crassos de contratar jogadores "gastos" dos clubes de maior poder financeiro, e de pagar uma fortuna em jogadores meia-bocas, os Joden encontraram em Frank de Boer, Dennis Bergkamp e Marc Overmars, um trio lendário da casa, para retomar as glórias de outrora, sem perder a sua característica.

Seria tudo mais fácil se os três pudessem entrar em campo, mas pelo andar da carruagem, coisas boas podem retornar ao clube que não cansa de vencer.

Postagens populares

Total de visualizações

Seguidores

Tecnologia do Blogger.

Ads 468x60px

About Me

- Copyright © Trama Futebol Clube -- Traduzido Por: Template Para Blogspot