Postado Por : TramaFC 9.2.13

Há duas temporadas veio uma notícia que evidenciava a decadência do futebol italiano, o popular Calcio. Devido ao fraco desempenho da Azzurra, seleção nacional, e dos clubes italianos em competições como Champions League e UEFA Champions League (atualmente Liga Europa), o Calcio perdeu uma vaga para a ascendente (e contundente) Bundesliga. No ranking da UEFA, a Alemanha superou a Itália e acabou tirando-lhes uma vaga para as competições internacionais.
A decisão da UEFA foi acertada, porém, essa decisão mexeu com o brio dos italianos. O orgulho de uma nação sobre um esporte em que outrora era temida já deixou de existir há algum tempo. Vários fatores contribuíram para essa derrocada do Calcio, no entanto, dois são bem claros.
O primeiro fator, e talvez mais importante, é a grande dívida dos clubes italianos com bancos e jogadores. Nos anos 90, o Calcio era o campeonato mais importante do planeta. Nele havia o Milan dos holandeses Rijkaard, Van Basten e Gullit, a Juventus de Nedved e Zidane, a Internazionale do Ronaldo e a Roma do Totti e Batistuta. Os diretores desses clubes esbanjavam dinheiro em contratações, e muitas delas vinham a granel, ocasionando no déficit bancário.
O segundo fator, que é uma consequência do primeiro, foi a desvalorização dos jogadores italianos. A gastança na contratações de jogadores fez com que abertura do mercado para os estrangeiros fosse completamente absurda. Graças a esse fenômeno, deixou-se de lado a valorização do mercado nacional, restando apenas jogadores italianos com idade bastante avançada.
O duro golpe no ego italiano, que é muito forte diga-se de passagem, foi sentido já na temporada passada quando a Juventus conquistou o Calcio de maneira invicta. A Velha Senhora, com um time recheado de jogadores italianos e uma maneira muito clara de se jogar futebol, faturou o troféu merecidamente num campeonato marcado pelo cerceamento à alguns gigantes, caso da Inter e da Roma que obtiveram desempenhos pífios.
No entanto, como o futebol é algo inexplicável, a Azzurra conseguiu chegar até a final da Eurocopa, contra a Espanha, num dos maiores momentos de turbulência de sua história. Uma das primeiras coisas que aprendi quando criança foi que nós jamais devemos duvidar de seleções como a do Brasil, Alemanha e, especialmente, a da ITÁLIA. Talvez seja o espírito gladiador, ou talvez seja o peso da camisa, mas jamais, em hipótese alguma, duvido do que os italianos são capazes de fazer no futebol.
A partir de então, o futebol italiano cravou suas esperanças novamente em suas raízes futebolísticas, em sua tradição de grandes jogadores. Ficou nítido para os italianos de que algo precisava ser feito para mudar o desastre que eles mesmo tinham criado.
O que ficou claro nesta temporada do Calcio fora a percepção dos italianos de que eles já não podem mais arcar com grandes nomes e assim gastar o dinheiro que não têm. Clubes como Juventus, Napoli e Lazio perceberam antes dos demais que era necessário apostar em jogadores jovens e baratos visando um lucro futuro. Tal perspicácia deu aos três clubes o primeiro, segundo e terceiro lugares no topo da Serie A até o momento.
A Juventus, campeã da temporada passada, apostou mais nos jogadores desconhecidos das grandes praças (Bonucci, Marchisio, Giaccherini, Vidal, Lichsteiner e Matri, por exemplo) do que em medalhões. A única exceção foi Andrea Pirlo, um gênio do futebol que estava em baixa no Milan, que encaixou como uma luva e renasceu no time de Turim. Além dos desconhecidos e do Pirlo, a Juve contratou bons e novos valores para o seu elenco, caso do vigoroso volante Kwadwo Asamoah (24 anos e ex-Udinese), do promissor Paul Pogba (19 anos e ex-Manchester United) e do potente volante/lateral Mauricio Isla (24 anos e ex-Udinese). Para fechar o ciclo, a Juventus apostou mais uma vez no talento de Sebastian Giovinco, apontado desde 2006 como o novo Roberto Baggio, que fora recontratado do Parma.
O Napoli, que ascendeu junto com a Juventus em 2006/2007 da Serie B, vem realizando um trabalho de reconstrução da marca desde então. Até a temporada de 2009/2010, o Napoli oscilava entre a 6ª e 10ª colocação, e partir de 2010/2011, quando conseguiu terminar na honrosa 3ª colocação, ficou evidente o ótimo trabalho napolitano com seu plantel que pouco mudou desde o acesso. O marco para essa mudança foi a contratação do excelente atacante Edinson Cavani, que veio do Palermo após o uruguaio ter dado um show no Sulamericano Sub-20 de 2008. Além do atacante uruguaio, o argentino Lavezzi (atualmente no PSG) contribuiu fortemente para que os napolitanos. Mas atendo-se ao plantel atual, existe um jogador que pouco chama atenção da mídia, mas que tem uma importância colossal para o ex-time de Maradona: Marek Hamsik, eslovaco de 25 anos. Hamsik joga em todas as posições do meio-de-campo. Outros componentes desse forte time são: Maggio, Zuñiga (destaque do Nacional-COL na Libertadores de 2008), Inler e o jovem Insigne, cuja categoria se equivale à sua sorte.
Já a Lazio, time de extrema-direita da capital da Bota, conquistou o seu último Scudetto em 1999/2000 num time que ainda jogavam Nedved, Mendieta e Inzagghi. Desde então, a Águia da Capital alçou vôos modestos até a temporada retrasada quando conseguiu a 4ª colocação. A Lazio, assim como o Napoli, pouco mexeu no seu plantel durante esse período. Aliado aos "senattores" (como são chamados os jogadores de bastante tempo de casa) Mauri, Radu, Brocchi, Floccari e do craque Cristian Ledesma, os novatos Hernanes, Fernandez, Kozak, Ciani e Konko, ditam o ritmo do time. Se pararmos para analisar friamente o time da Lazio, nota-se que o time possui muitos jogadores experientes e até mesmo os novatos não são tão novos assim. Porém, o que encorpou mesmo o time da capital foram as contratações cirúrgicas de alguns jogadores desvalorizados e "velhos", casos do excelente centroavante Miroslav Klose, e do francês Louis Saha, ambos com 34 anos. Outro ponto de destaque fora a contratação do bósnio Senad Lulic, 27 anos, que foi contratado a pedido do treinador Vladimir Petkovic (que recebe apenas £$ 80 mil e faz um trabalho fantástico) após terem trabalhado juntos no Young Boys-SUI.
Além desses três clubes citados, outros times estão dando o que falar por terem se adaptado à nova realidade do Calcio. Um desses clubes é a Fiorentina, time comandado por Vicenzo Montella (aquele mesmo que jogou na Roma) e que pratica um futebol atrevido, que por muitas vezes não é atribuído ao estilo italiano de jogar futebol. O time é muito jovem e possui ótimas promessas como Stephan Jovetic, Juan Cuadrado e Adem Ljajic. O time de Firenzi contratou o excelente Guiseppe Rossi, ex-Villareal, nessa janela de inverno e promete brigar de igual para igual contra os três primeiros. A Viola encontra-se na 6ª posição, atrás de Inter e Milan, 4° e 5° colocados respectivamente.
Neste sábado, inicia-se a rodada 24 da Serie A, que promete ser a mais exuberante (tanto é que serviu de inspiração para esse post) dos últimos anos. O primeiro jogo da rodada é simplesmente o confronto entre a líder Juventus contra a Fiorentina, às 15h. Depois, às 17h25, Lazio e Napoli se enfrentam no Olimpico de Roma.
Sem querer desmerecer os jogos de domingo, mas esses dois embates são imperdíveis justamente pela proximidade da Juventus para o Napoli, que é de três pontos, do Napoli para a Lazio, que é de seis pontos, e da Lazio para a Fiorentina, que é de quatro pontos. Os eternos rivais Inter e Milan, que possuem os mesmos 40 pontos, enfrentam Chievo (12°) e Cagliari (16°) respectivamente, no domingo, e podem finalmente encabeçar uma luta pela UCL.
Portanto, durante a rodada 24 do Calcio poderemos ter uma mudança desde o primeiro colocado até o quinto colocado da tabela. Juntando todos os fatores que implicaram nessa nova mentalidade italiana, nesse futebol agradável de se ver e nessa disputa acirradíssima pelo Scudetto, Champions League e Liga Europa, podemos dizer que finalmente estão tratando o Calcio com o devido respeito com o qual eu sempre tive desde criança. Grazie, inflazione!

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